quarta-feira, 28 de outubro de 2009

As Mulheres Guerreiras do Vietnam

As Mulheres Guerreiras do Vietnam

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Publicado na Friday, 14 March 2008

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“Todos os heróis masculinos se curvaram em submissão, apenas as duas irmãs, orgulhosamente, os enfrentaram.” Poema do século XV

As Irmãs Trung

Os vietnamitas viveram cerca de 1.000 anos (111 AC to 939 DC) sob o domínio dos vizinhos do Norte, a China. Conta-se que, por mais de 200 anos, ninguém teve coragem de questionar esse poderio, até que, como já comecei a contar pra vocês, no ano 40 DC, duas irmãs foram responsáveis pela primeira insurgência e declaração de independência do Vietnam.

As duas irmãs Trưng nasceram em uma familia de militares, filhas de um lorde poderoso, numa vila da área rural do Vietnam. Cresceram numa casa onde se praticava artes marciais e passaram boa parte da vida estudando estratégias de guerra e aprendendo diversas formas de luta. Presenciaram atrocidades cometidas contra seu povo e juraram expulsar os dominadores.

As mulheres vietnamitas tinham muito mais direitos que as chinesas, que eram vítimas dos ensinamentos de Confício que exigiam a total submissão feminina. No Vietnam, as mulheres podiam herdar terras e eram liderança em diversas áreas.

Percebendo a ameaça que as irmãs representavam ao país dominador, e tentando amedrontá-las, um comandante chinês estuprou Trung Trac e matou seu marido. Em retaliação, as irmãs organizaram uma rebelião que iria libertar, pela primeira vez, o país do poder chinês.

Reza a lenda que, para mostrar força e entusiasmar o povo, as irmãs mataram um tigre que vinha atacando as cidades e escreveram em sua pele a convocação para que os vietnamitas entrassem na força de resistência.

No ano 40 DC, elas conseguiram formar um exéricto de 80 mil pessoas (homens e mulheres), todos comandados por 36 mulheres-generais, incluindo a mãe delas. Foi com esse exército fantástico que elas expulsaram os chineses e a mais velha foi aclamada rainha.

Mas, os invasores nunca desistiram de retomar a terra e, no ano 43, voltaram a atacar com toda força. Elas organizarm uma forte resistência e diz-se que uma das comandantes, Phung Thi Chinh, lutou grávida, pariu e continuou a luta com o filho nas costas – só pode ter amamentado, né? ia dar o quê ao bebê numa situação dessas? ;-)

Mesmo com todos esforços, os chineses conseguiram retomar o controle do país. Diz-se que as duas preferiam se matar, jogando-se num rio, a se submeter aos poderio dos chineses.

Hoje, as Irmãs Trung são veneradas em todo Vietnam. Alguns dizem que, se não fosse por elas, nunca teriam se libertado dos invasores chineses. Existem vários templos e monumentos onde são adoradas como deusas, poemas louvam sua força e coragem.

Impossível visitar o Vietnam e não perguntar quem são as duas mulheres sempre de mãos dadas, gravadas em madrepérola, pintadas em camisetas ou em outros artesanatos vendidos por todo país.

Fontes:

  • Distinguished Women of Past and Present
  • Female Heroes of Asia: Vietnam

    Triệu Thị Trinh

    trinh.jpgTriệu Thị Trinh, também conhecida como Bà Triệu (Lady Triệu) ou a “Joana d’Arc vietnamita”, viveu entre os anos 225 e 248 e liderou vários grupos de resistência contra o domínio chinês. Existe uma controvérsia sobre sua existência, alguns acham que foi pura ficção, criada na dinastia Le para entusiasmar o povo a lutar contra os invasores.

    Diz-se que, ao completar 20 anos, sem suportar mais a opressão do domínio chinês, mudou-se para a selva e organizou um exército de mil homens. Quando seu irmão foi buscá-la e e tentar a persuadir a desistir da luta, ela teria dito:

    “Não vou me resignar a ser mais uma no grupo de mulheres que se curvam e tornam-se concubinas. Eu quero navegar nas ondas mais tempestuosas, enfrentar os ventos mais fortes, matar as baleias do Mar do Leste e lutar com Wu para ganhar a independência. Eu não pretendo aceitar o abuso.”

    No Đại Việt sử ký toàn thư (Anais Completos do Grande Viet), escrito durante a dinastia Le, a poderosa é descrita como uma mulher com sobrenome Triệu, que tem seios de 1.2 metros, que são jogados para trás e amarrados nas costas, é solteira, usa túnicas amarelas, sapatos com a frente curvada, luta montada na cabeça de um elefante e é imortal.

    Descontada a lenda, o fato é que ela é citada em muitos livros escolares como heroína (assim como as irmãs Trung), é nome de várias ruas e tem até um feriado nacional em sua homenagem. Muitas vezes, os souvenirs vêm com a imagem de três mulheres, que representam as irmãs Trung e a Triệu Thị Trinh.

    Muitos estudiosos afirmam que o fato das maiores heroínas da resistência contra a China serem mulheres confirma a teoria de que o Vietnam era um matriarcado, no período anterior à invasão.

    Fonte:

  • Triệu Thị Trinh

    As mulheres na Resistência

    Fiz essas fotos no Museu da Mulher do Vietnam, numa visita que fiz com a querida Roseane.

    Não sei se foi a inspiração das heroínas ou, simplesmente, a necessidade eterna de se defender dos invasores, mas é impressionante a força das mulheres vietnamitas. Seja na luta contra os colonizadores franceses ou contra os “puppets” (bonecos) americanos, as mulheres sempre lutaram de igual pra igual, no Vietnam.

    As fotos acima mostram pelotões de mulheres que não serviam como enfermeiras, mas estavam na linha de frente das batalhas contra os americanos. Impressionante essa segunda foto, em que uma mulher franzina leva o grandalhão, prisioneiro americano. Nas fotos 5 e 8, mulheres atiram pra derrubar aviões americanos.

    A foto 5, da velhinha, à esquerda, mostra uma monja budista que se suicidou em protesto contra a dominação dos franceses em 1945 e na foto 6, uma mãe amamenta num túnel, esconderijo, durante a guerra contra os americanos. Adoro, particularmente, a última foto preto e branco, com um grupo de guerrilheiras conversando e rindo, numa mostra de que mesmo nos piores momentos, dá pra manter a serenidade.

    As fotos de artesanato mostram coisas que as mulheres faziam na selva, em plena guerra, para embelezar a vida delas e de seus companheiros.

    Esse museu não é muito conhecido, mas foi uma das coisas mais bonitas e emocionantes que vi na cidade. Visita imperdível.

    Hoje

    Infelizmente, mesmo com toda contribuição das mulheres à independência do Vietnam, o processo constante de introdução de outras culturas, especialmente a chinesa (mas, um pouco também a francesa), contribuiu para que a situação delas não fosse nem um pouco melhor que de mulheres em outros países.

    A maternidade é sua função social mais reconhecida e ela é considerada a responsável pelo sexo do bebê, podendo receber tratamento violento por parte do marido e sua família, se não tiver um filho homem.

    Como planejamento familiar, o governo socialista tem um programa de incentivo a apenas dois filhos por casal, mas se nenhum deles for menino a família, e especialmente a mulher, será motivo de vergonha e discriminação.

    As mulheres são, constantemente, vítimas de violência doméstica e abuso sexual. Elas apanham não apenas dos maridos, mas das sogras que, como na India, têm enorme poder sobre elas. Uma pesquisa mostrou que um terço das prostitutas de Ho Chi Min (antiga Saigon) é formado por mulheres que fugiram de casa para escapar de maus tratos.

    A Coalizão Contra Tráfico de Mulheres (CATW) reporta que entre 60.000 e 200.000 mulheres e meninas são envolvidas em prostituição e que 6.3% delas tem menos de 16 anos. 80% da população vive em área rural, mas com a migração cada vez maior para grandes cidades, acredita-se que a prostituição e tráfico de mulheres deve aumentar.

    Ted comentou que, quando esteve no Vietnam outra vez, sem mim, vários motoqueiros o paravam na saída do hotel para oferecer uma “irmã” deles para ele…

    Uma coisa que eu percebi foi que a gente vê muitas mulheres trabalhando nas ruas. Vejam as fotos abaixo, quase todas as vendedoras, que carregam essas enormes peneiras com um chapelão pra aguentar o calor, são mulheres (e o peso dessas frutas é enorme!).

    Lendo mais sobre a situação delas, vi que os empregos na área industrial, que surgiram depois do “doi moi” (a “Perestroika vietnamita”, abertura econômica e política) são quase todos tomados por homens, sobrando para as mulheres o trabalho pesado, com menos segurança e maior riscos para a saúde.

    Fonte:

  • International Women’s Rights Watch – Vietnam

    Apesar de tudo isso, o que eu vi nas mulheres foi uma força enorme. Elas não parecem submissas, ao contrário das indianas e chinesas, não são tímidas, têm uma centelha da resistência histórica das heroínas.

    Pena que em épocas de paz, os homens (e outras mulheres) esquecem rapidinho do papel e da força da mulher na luta pela independência e contra os opressores externos e se tornam, eles mesmos, os opressores dentro de casa, usando de violência física e econômica para subjugá-las.

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